24/04/2025
Trabalho

O Segredo de Escolher Entre Mediocridade Segura e uma Carreira Extraordinária

Eu comecei a trabalhar cedo. Aos 16 anos, já estava colocando a mão na massa como instalador de película automotiva. Era um serviço manual, detalhista, que exigia paciência e um certo capricho. Não era o emprego dos sonhos, bem longe de ser, mas me dava um dinheiro no bolso e uma sensação de independência que, naquela idade, valia ouro. Hoje, com mais de 40 anos, olho para trás e vejo um caminho longo, cheio de curvas, com várias profissões que me moldaram de maneiras diferentes. Fui office boy, fui estagiário de ensino médio, digitador, analista de contas médicas, fotógrafo, cinegrafista, editor de vídeo e, atualmente, trabalho como motion designer. Cada etapa trouxe aprendizados, desafios e, claro, momentos de dúvida. E é sobre essas dúvidas que quero falar hoje.

Uma Vida de Mudanças e o Peso da Autocrítica

Quando olho para minha trajetória, vejo um cara que nunca parou de se mexer. Já engoli muito sapo como office boy, já digitei milhares de números durante um bom tempo, já analisei planilhas enormes como analista de contas médicas e, mais tarde, mergulhei de cabeça no mundo criativo como fotógrafo e editor de vídeo. Hoje, como motion designer, mexo com animações, crio peças visuais que ajudam a contar histórias. Gosto do que faço, de verdade. É um trabalho que mistura técnica e criatividade, duas coisas que sempre me atraíram. Mas, se for para ser honesto comigo mesmo, não me vejo como o melhor da área.

Conheço os caras que são referência na minha área. São aqueles profissionais que entregam projetos impecáveis, que todo mundo no mercado admira. Eu? Sou bom. Faço bem o que me pedem, cumpro prazos, deixo os clientes satisfeitos. Mas não sinto que estou no mesmo patamar desses mestres. Não sou extraordinário. E essa percepção, às vezes, pesa. Será que eu poderia ser mais? Ganhar mais dinheiro? Ser mais relevante para a comunicação? Será que estou me acomodando? Essas perguntas rondam minha cabeça enquanto penso no próximo passo da minha vida.

O Chamado do Concurso Público: Estabilidade ou Mediocridade?

Recentemente, comecei a refletir sobre algo que nunca tinha considerado antes: fazer um concurso público. A ideia surgiu quase como um sussurro, uma possibilidade de ter estabilidade financeira, um salário fixo e benefícios que, vamos combinar, são tentadores. Depois de tantos anos pulando de profissão em profissão, enfrentando altos e baixos, a promessa de segurança é sedutora. Imagina só: não precisar me preocupar com freelas que não fecham, com empresas que atrasam pagamentos ou com a incerteza do mercado criativo. Parece um sonho, certo?

Mas aí vem o outro lado da moeda. Sempre que penso em concurso público, sinto um frio na espinha. Não é só sobre largar o que eu gosto de fazer – é mais profundo que isso. Para mim, encarar um concurso seria como assinar um papel dizendo: “Desisti de ser o profissional que sei que posso ser”. Não quero soar arrogante, mas acredito que quem opta por essa rota, na maioria das vezes, nunca chegou a se destacar como profissional. Conheço pessoas que passaram em concursos, e muitas delas são felizes com o dia do pagamento, com a segurança do contracheque, mas vivem distantes de qualquer paixão pelo que fazem.

Já vi isso de perto. Amigos que se tornaram servidores públicos e, com o tempo, perderam o brilho nos olhos. Eles são competentes no que fazem? Alguns sim, outros nem tanto. Mas acima da média? Raros. A maioria parece ter se conformado com a rotina, com o conforto de um emprego estável. E eu me pergunto: será que quero isso para mim? Será que estou disposto a trocar a chance de me tornar um profissional excepcional por um caminho mais previsível?

A Luta Interna: Ambição x Conforto

Essa reflexão tem me consumido ultimamente. De um lado, sinto que ainda tenho muito a oferecer como profissional criativo. Sei que posso evoluir, estudar mais, me dedicar a projetos pessoais que me desafiem e, quem sabe, chegar mais perto daqueles caras que admiro. Tenho mais de 40 anos, mas ainda sinto fome de crescer, de provar para mim mesmo que posso ir além do “bom”. Quero olhar para trás e dizer que deixei minha marca, que fiz algo memorável.

Por outro lado, há um cansaço que não ignoro. São mais de duas décadas trabalhando, enfrentando instabilidades, correndo atrás de oportunidades. Às vezes, a ideia de relaxar, de ter uma vida mais tranquila, me pega de jeito. Um concurso público poderia ser isso: menos pressão, mais tempo para mim, uma aposentadoria garantida. Mas a que custo? Será que eu aguentaria acordar todo dia para um trabalho que não me enche de orgulho, só pelo salário no início do mês?

Enquanto penso nisso, lembro de todas as vezes que mudei de profissão. Cada transição foi um salto no escuro, mas também uma chance de me reinventar. Fui de instalador de películas a fotógrafo, de digitador a editor de vídeo. Sempre achei um jeito de me adaptar, de aprender algo novo e seguir em frente. Então, por que agora eu me renderia à preguiça? Será que essa vontade de estabilidade é só medo disfarçado?

O Que Eu Quero de Verdade?

Acho que o cerne dessa questão é descobrir o que realmente importa para mim. Dinheiro é importante, claro – ninguém vive de brisa. Mas será que vale mais do que a satisfação de criar algo único, de ver um cliente emocionado com uma animação que eu fiz do zero? Quando penso nos meus anos como cinegrafista, lembro da adrenalina de capturar o momento perfeito. Como editor de vídeo, sentia um prazer imenso em dar vida a uma sequência. Hoje, como motion designer, vibro quando uma ideia abstrata ganha forma na tela. Isso é o que me move.

Talvez o caminho seja encontrar um equilíbrio. Continuar no motion design, mas com mais foco, mais disciplina. Investir em cursos, explorar novas técnicas, arriscar em projetos que me tirem da zona de conforto. Não preciso ser o melhor do mundo, mas posso ser a melhor versão de mim mesmo. E, quem sabe, com isso venha uma estabilidade financeira que não dependa de um crachá público.

A Falta de Mestres no Meu Caminho

Pensando em tudo isso, percebo outra coisa que me incomoda: desde que comecei a trabalhar, aos 16 anos, tive raríssimos contatos com profissionais que eu poderia olhar e dizer “esse cara é foda!”. Chuto que, em mais de 20 anos de trabalho, foram uns quatro ou cinco, no máximo. Gente que realmente me inspirou, que tinha algo a ensinar, que me fez querer ser melhor. Sinto falta disso. Falta de estar perto de pessoas que me desafiem profissionalmente, que me mostrem um nível mais alto de excelência. Talvez essa ausência tenha contribuído para eu me sentir apenas “bom” hoje. Quem sabe, buscando esses mestres – ou me tornando um deles –, eu encontre o empurrão que preciso.

Uma Decisão em Andamento

Por enquanto, não tenho uma resposta definitiva. Estou em um momento de introspecção, pesando os prós e contras. O concurso público é uma opção real, mas não é a única. Ainda acredito no meu potencial como motion designer, na minha capacidade de crescer e me destacar – não como “o cara foda”, mas como alguém que faz um trabalho foda do seu jeito. O futuro está aberto, e eu gosto dessa incerteza. Ela me lembra que, aos 40 e poucos, ainda tenho tempo de escolher meu caminho.

Se você já passou por algo assim, me conta. Já pensou em largar tudo por estabilidade? Ou decidiu insistir no que ama, mesmo com os riscos? Talvez suas histórias me ajudem a clarear as ideias. Por agora, sigo refletindo, criando e buscando o próximo passo – seja ele qual for.

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