Quando penso em você, o mundo parece parar. Não é uma pausa dramática, dessas que vemos nos filmes; é algo mais profundo, como se o tempo tivesse desistido de correr enquanto meu coração insiste em bater sem propósito. Você não está aqui, mas sua ausência ecoa tão alto quanto qualquer presença poderia. É engraçado como a gente só percebe o valor das coisas quando elas já se foram. Hoje, eu me vejo tentando reconstruir pedaços do que vivemos, mas tudo o que encontro são sombras e memórias fragmentadas.
Eu lembro de te ver triste. Lembro-me bem daquele dia, com seus olhos fixos no horizonte, como se procurassem respostas num lugar inalcançável. Era como se você estivesse ouvindo algo que ninguém mais conseguia escutar — talvez o som do seu próprio grito abafado pela solidão. E eu? Eu era apenas um espectador confuso, incapaz de entender completamente o que se passava dentro de você. Mas, mesmo assim, senti necessidade de agir. Quis te tirar dali, te arrancar daquela espiral silenciosa. “Vamos para a festa”, eu disse, porque foi a única coisa que me ocorreu na hora. Não sei por que achei que música alta e risadas desconhecidas poderiam curar aquilo que te machucava. Talvez porque eu também não soubesse lidar com o peso da sua dor.
E agora, sozinho, reflito sobre isso. Como pude ser tão simplista? A verdade é que eu nunca soube direito como te amar. Ou melhor, eu sabia, mas não tinha palavras suficientes para expressar. Havia algo em você que ia além das frases feitas, dos gestos ensaiados. Era um amor aflito, urgente, como se cada segundo fosse precioso demais para ser desperdiçado. E eu queria te dizer tantas coisas… Queria te contar sem precisar abrir a boca, sem depender das limitações da linguagem. Queria cantar para você sem usar notas musicais, criar poesia sem versos. Mas, no final das contas, fiquei preso nessa armadilha humana de não conseguir traduzir sentimentos em ações concretas.
Agora, cada manhã começa com essa sensação estranha de vazio. É como acordar em um quarto onde todas as janelas foram pintadas de preto. Sei que há luz lá fora, mas ela não entra. Sei que deveria seguir em frente, mas minhas pernas parecem pesadas, ancoradas ao chão pelo peso da sua falta. Às vezes, me pego pensando em como seria diferente se você ainda estivesse aqui. Será que teríamos aprendido a dançar juntos, mesmo sem música? Ou será que continuaríamos tropeçando nas mesmas pedras, incapazes de superar nossas diferenças?
Sabe, tem dias em que me sinto como um prisioneiro cumprindo pena em uma cela invisível. Não há grades nem guardas, mas existe essa força inexplicável que me prende à lembrança de você. Cada pequena decisão que tomo parece refletir sua ausência: o café que não bebo porque você sempre preferiu chá; o caminho alternativo que escolho para evitar aquele banco onde costumávamos sentar. Tudo me lembra você, e essa constante recordação é ao mesmo tempo confortante e dolorosa.
Outras vezes, me vejo como um velho diário abandonado na praia. As páginas estão gastas pelo vento e pela maresia, carregando histórias que ninguém mais lê. Espero pacientemente que alguém — ou algo — venha me encontrar e decifrar os rabiscos desbotados. Mas, no fundo, sei que essas palavras foram escritas para você. São segredos, promessas e confissões que jamais serão compreendidas por outra pessoa. Então, permaneço ali, à mercê das marés, esperando um milagre que provavelmente nunca vai acontecer.
Há momentos em que minha mente viaja para lugares ainda mais sombrios. Imagino-me como uma pista de pouso deserta, cercada por montanhas e florestas densas. Aviões passam distantes no céu, mas nenhum deles considera aterrissar aqui. Eles têm destinos mais importantes, rotas mais claras. E eu continuo esperando, mesmo sabendo que talvez nunca seja notado. Essa espera é exaustiva, mas desistir dela seria admitir derrota. E eu não estou pronto para isso.
Também penso no mito das sereias, criaturas que encantam marinheiros com suas canções melancólicas. Dizem que seus lamentos são tão belos quanto trágicos, capazes de atrair embarcações para o naufrágio. Às vezes, me pergunto se sou como essas sereias, emitindo sinais de socorro que ninguém escuta. Ou será que sou o navio perdido, navegando sem rumo, esperando colidir com algo que finalmente me faça sentir vivo novamente?
Mas não é só dor o que sinto. Entre os momentos de angústia, há lampejos de gratidão. Por mais complicado que tenha sido nosso relacionamento, ele me ensinou muito sobre mim mesmo. Antes de você, eu era alguém que vivia na superfície, evitando mergulhar nas profundezas emocionais. Com você, aprendi a enfrentar meus medos, minhas vulnerabilidades. Descobri que amar não é apenas dar e receber afeto; é também aceitar as imperfeições e conviver com as cicatrizes.
Você deixou marcas em mim — algumas visíveis, outras não. Seu sangue corre em minhas veias, metaforicamente falando. Seu cheiro ainda habita meus pulmões, como se parte de você tivesse ficado para sempre entranhada em mim. Isso pode soar mórbido para alguns, mas para mim é uma forma de conexão. Mesmo longe, você continua presente de maneiras sutis, quase imperceptíveis.
Então, o que fazer com tudo isso? Como seguir em frente quando metade de mim parece estar presa no passado? Não tenho todas as respostas, e talvez nunca as tenha. O que sei é que preciso aprender a conviver com essa dualidade: o desejo de recomeçar versus a necessidade de honrar o que vivemos. Não quero apagar você da minha vida, mas também não posso permitir que sua ausência defina quem sou hoje.
Tenho tentado encontrar novos significados nas coisas simples. Observo o nascer do sol, escuto o canto dos pássaros, experimento sabores diferentes. São pequenos gestos, mas eles ajudam a preencher o vazio. Claro, ainda há dias ruins, momentos em que me sinto completamente perdido. Mas estou aprendendo a aceitar isso como parte do processo. Afinal, a vida não é feita apenas de altos e baixos; existem também esses espaços intermediários, onde estamos simplesmente respirando, existindo.
Se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente? Provavelmente sim. Tentaria ser mais atento, mais presente. Escutaria mais, falaria menos. Abraçaria você com mais intensidade, como se cada contato fosse a última oportunidade. Mas o tempo não retrocede, e o que resta são as lições aprendidas e as memórias guardadas.
Hoje, escrevo este texto não apenas para compartilhar minha história, mas também para lembrar a mim mesmo que ainda estou aqui. Que, apesar de tudo, continuo respirando, sonhando, lutando. Sei que a jornada ainda é longa, cheia de curvas e obstáculos. Mas também sei que, em algum lugar dentro de mim, há uma centelha de esperança. Uma chama tênue, mas persistente, que me impulsiona a seguir adiante.
Você pode não estar fisicamente ao meu lado, mas sua influência permanece. E, de certa forma, isso é reconfortante. Porque, mesmo na ausência, você continua sendo parte da minha história. Parte de quem eu sou.
E talvez seja isso o que realmente importa.